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quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Marcela Bettega: "A vivência em Paranaguá me fez querer entender sua configuração e história"

 

 

Pesquisadora conta que a questão escravagista da cidade foi algo que chamou muito sua atenção 

Marcela Bettega é pesquisadora e vem dialogando a questão da preservação do patrimônio histórico de Paranaguá. Para preservar é preciso conhecer e é isso que ela vem fazendo. Ao chegar a Paranaguá no ano de  2012, ficou encantada e perplexa ao mesmo tempo, e passou a pesquisar sobre a cidade.

E Paranaguá lhe rendeu uma especialização em Gestão Pública e o mestrado em Desenvolvimento Territorial Sustentável.

Mas o estopim para Marcela mergulhar na questão patrimonial foi uma pergunta feita por uma professora do Rio de Janeiro que visitava a cidade. Ela citou a semelhança com Paraty e perguntou: - “Quando essa cidade deixou de ser amada?”

Conheça mais sobre ela:

  

Como surgiu o interesse pelo patrimônio histórico em sua vida?

Gosto de cidades. Desde muito garota tenho o hábito de caminhar muito, observando os caminhos. Tenho formação em Artes Visuais e muitas práticas durante a faculdade foram realizadas tendo a cidade como “inspiração”. Gosto muito de arquitetura.

Penso que meu gosto se modela por aí.

A vivência em Paranaguá me fez querer entender sua configuração e história. Quando cheguei em 2012, fiquei encantada e também perplexa com o lugar – tem porto, tem rio, tem mar, tem ilha, tem edificações de 300 anos, tem muitos exemplares arquitetônicos antigos... tanta, tanta coisa... que fui estudando, pesquisando...

Sou estudiosa e gosto de saber. E estudar Paranaguá me rendeu uma especialização em Gestão Pública e o mestrado em Desenvolvimento Territorial Sustentável.

Mas o estopim pra eu mergulhar na questão patrimonial foi uma pergunta feita por uma professora do Rio de Janeiro que visitava a cidade. Passeávamos pelo Centro Histórico em um domingo à tarde e depois dela tecer muitos elogios ao Centro, e falar da semelhança com Paraty, virou-se para mim e perguntou: - “Quando essa cidade deixou de ser amada?”

Contei essa história muitas vezes... É uma pergunta muito forte e a partir dela construí um trabalho, que nasceu como proposta de uma estética para os abandonos.

O que fazer com tantas edificações em estado de abandono? Como isso pode se transformar em algo potente? Que seja possível criar diálogos, pensamentos, reflexões?

 

Há dois anos você vem realizando oficinas de educação patrimonial.  Os objetivos estão surtindo efeitos ou isso é a longo prazo?

Ando muito satisfeita e orgulhosa em relação a isso!

Primeiro, por causa dos produtos gerados com as oficinas: foram cinco artigos publicados no jornal  Folha do Litoral sobre lugares do Centro Histórico;  foi realizada uma exposição fotográfica e o meu xodó:  que são os cartões-postais que foram feitos a partir das fotos da exposição. Foram 1000 jogos de postais que estão apresentando Paranaguá a partir de um olhar diferenciado.

Além das oficinas, algumas ações acontecem “por contato”, como o lindíssimo trabalho do Giovanni Negromonte – Desabandonar – que é uma intervenção artística em algumas edificações do Centro histórico, que está trazendo na prática, reflexões muito pertinentes e pontuais sobre o espaço urbano e a nossa relação com ele.

 

Como pesquisadora quais foram as descobertas que mais te chamaram atenção em Paranaguá.

A questão escravagista da cidade foi algo que me chamou muita atenção, são poucos os documentos que explicitam isso, mas é possível montar um quebra-cabeças.

 

Ultimamente você tem participado do projeto cultura na rede. Fale um pouco sobre esse trabalho.

Realizei dois trabalhos, um sobre as “Construções Religiosas do Centro Histórico” e outro sobre as “Fachadas”. São mini-documentários-aulas sobre detalhes do Centro Histórico. Batizei o trabalho de “Paranaguá a pé” por serem trajetos relativamente curtos, passíveis de realizar em uma leve caminhada. O Centro Histórico é tão rico, tem tantas informações impressas nas suas formas que vale a pena dedicar um pouco da atenção para o olhar ao redor.

Ambos os vídeos estão com muitas visualizações, o que mostra a relevância do tema para as pessoas.

 

Qual é a visão do Parnaguara em relação ao patrimônio histórico da cidade. Seria possível caracterizar isso?

Sabe, nesses anos percebi que são muitas visões! Tem aquelas pessoas que com uma visão romantizada e idealizada sobre o patrimônio histórico, com uma expectativa saudosista que Paranaguá “volte a ser como era”.  E essa visão, inevitavelmente, leva à frustração. Não existe a possibilidade de voltar a ser, porque se todos os edifícios forem reconstruídos, não viveremos mais numa cidade real, e sim numa alegoria de uma cidade antiga, num cenário. O que para alguns segmentos econômicos pode ser bom, mas tenho lá minhas dúvidas de quanto seja bom para as pessoas.

Tem muita, mas muita gente mesmo que nem sabe sobre o patrimônio histórico da cidade, principalmente quem vive em bairros periféricos, que pouco ou raramente vem ao Centro.

Muitos não católicos nunca entraram nas Igrejas de São Benedito e da Ordem que são edificações do estilo colonial/barroco brasileiro, por exemplo – por conta da profissão de fé, e acabam perdendo uma vivência histórica que está para além desta ou daquela religião.

 O patrimônio Parnaguara ainda não é acessível para todas as pessoas.

Tem muito trabalho a ser feito, e penso que o trabalho da educação patrimonial seja exatamente esse de arejar as percepções em torno do patrimônio de modo que ele possa ser integrado com a vida das pessoas no presente.

 


http://christianbarbosa.blogspot.com/2019/05/oficina-de-educacao-patrimonial-da.html?m=0

Fotos: Almir Silvério 

Contato:

 (41) 99103-5009

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