A história de um navio que, ameaçado pela polícia, despeja
22 toneladas de maconha no litoral brasileiro soa como um conto de surfista. No
entanto, o que muitos pensam ser uma lenda urbana aconteceu de verdade e os
seus incríveis detalhes são resgatados no livro “Verão da Lata” (Barba Negra),
do jornalista Wilson Aquino, de ISTOÉ. A carga suspeita chegaria ao Brasil em
agosto de 1987 a bordo de um barco de bandeira panamenha vindo da Austrália.
A
grande surpresa era como a droga estava acondicionada: em latas de 1,5 kg cada.
“O tráfico sempre foi criativo. Para enganar a fiscalização, procurou-se
disfarçar a carga camuflando-a da melhor maneira possível”, diz Aquino.
O que os traficantes não contavam é que o Drug Enforcement
Administration, órgão americano de combate aos narcóticos, sabia da operação e
avisou à polícia brasileira. No encalço dos bandidos, a Marinha disponibilizou
a fragata Independência, a mais moderna embarcação marítima de guerra do
momento, mas não conseguiu localizar o Solana Star e seus sete tripulantes –
cinco americanos, um haitiano e um costarriquenho – nos primeiros cinco dias de
busca. É que, sabendo que o esquema havia vazado, eles “abortaram a operação” e
jogaram ao mar uma média de 15 mil latas parecidas com as de leite em pó recheadas
de maconha prensada.
Atracaram no Porto do Rio, passaram tranquilamente pela
alfândega sob a alegação de problemas nos dois motores auxiliares e
hospedaram-se em Copacabana com a certeza de que deixaram o porão vazio. Do
ponto de vista dos traficantes, o golpe fora um sucesso, exceto pelo detalhe de
que, ao invés de afundar, as latas boiaram, e começaram a aparecer uma a uma,
primeiro no litoral fluminense, depois no paulista e até chegar à praia do
Cassino, no extremo do Rio Grande do Sul.
Dos sete tripulantes, seis escaparam pelo aeroporto do
Galeão dois dias depois de chegados ao Rio. Apenas o cozinheiro americano
Stephen Skelton ficou preso por um ano até conseguir a extradição. Para tirar o
episódio das brumas do mito, Aquino procurou os delegados da Polícia Federal do
Rio de Janeiro que participaram da operação há 25 anos. Colheu também
depoimentos dos envolvidos e até de quem teve acesso ao que ficou conhecido
como “fumo da lata”. “Conversei com surfistas, barqueiros e pescadores do
litoral que, na época, não faziam noção de onde vinham as latas.” Entre eles, o
roqueiro Serguei, que ainda hoje está viajando.
Marcos Diego Nogueira
Nenhum comentário:
Postar um comentário