Esta é uma lenda que virou filme na imaginação criativa do
saudoso cineasta de Paranaguá Cyro Matoso. Atualmente está disponibilizado no Youtube
sem quaisquer fins lucrativos, visando apenas a divulgação da sétima arte do
Paraná.
Sinopse - Paranaguá, ano de 1833. Roberto Inglês, um fazendeiro que não respeita as leis e comanda sua fazenda com mãos de ferro. Tenório, capataz da fazenda, um homem que segue com muita seriedade os comandos do patrão. Com a chegada da semana santa, preocupado, o padre João Batista pede para que o capitão tome alguma atitude em relação ao fazendeiro, e então coisas estranhas começam a acontecer.
Saiba mais:
O cineasta de Paranaguá (folhadelondrina.com.br)
Durante o século 19, Paranaguá era ainda chamada de Vila, e o Rocio, de Arraial. E nessa época, o capitão-mor recebeu a visita de um vigário, e de um mensageiro do "Arraial do Rocio". Estes lhe comunicavam que estavam em Semana Santa, e nenhuma atividade profana seria de agrado à Santa Igreja. Ciente do problema, o capitão-mor proibiu toda a festa naquele dia, mandou fechar os bordéis e decretou Lei Seca durante aqueles dias.
Só que havia um problema: um cidadão, chamado Robert Inglês, que organizava o
fandango (o baile típico daqui) se recusava a cancelar o baile daquele dia.
E de tanto aquele falar, os cidadãos chegaram à conclusão que era besteira
obedecer tanto a Igreja quanto o capitão-mor.
E o fandando daquela quinta-feira Santa ocorreria como organizado.
uma garota, chamada Lilica, ficou em casa com o irmão, Felipe, e a avó,
enquanto os pais viajariam naquele dia e só voltariam no Domingo de Páscoa.
Decidida a ir ao fandango mesmo sendo na quinta-feira santa, ela e sua amiga
Carminda planejaram pular a janela dos fundos da casa e fugir para o baile.
Nisso, em outra casa da região, um casal chamado Pedro e Isabel discutiam.
- Toma essa cangica, Pedrão.
- Eu num quero cangica nenhuma, Izabé! Eu quero é sargado, muié!
- Mas é quinta-feira Santa, Pedrão! Hoje é dia de jejua e orá!
- Cala a boca, Zabé! Vai pro diabo que te carregue!!
Nisso, um amigo do Robert Inglês chega na casa e chama Pedrão:
- Ei, Pedrão! O Robert Inglês tá te chamando pra tocar no fandango de hoje.
Vamo?
- É pra já, cumpadre Maneco! Mior do que ficá ouvindo as bestera da Izabé!
E Isabel ficou a se lamentar, enquanto Maneco e Pedrão foram para o fandango,
que aliás, já estava começando a encher.
Quando os dois chegam, logo começam a tocar. Robert Inglês e seus criados
servem o caldo de cana e logo começam o grande baile.
Nisso, Lilica e Craminda se arrumam para sair. Elas verificam mais uma vez se
Felipe e a vovó já dormiam, e logo pulam a janela. Elas seguem pro baile, a fim
de aproveitar bastante.
As altas horas da noite, chega um misterioso cavaleiro, montado num cavalo
negro. De chapéu na cabeça e terno, ele entra, e cumprimenta Robert:
- Boa noite, moço. Pode chegar, que o baile é meu. Não paga nada pra entrar.
- Obrigado, tenho certeza de que irei me divertir muito essa noite...
E logo, com sua simpatia extrema, o galanteador conquista a todos na festa,
principalmente das mulheres. A festa até começou a ficar mais divertida com a
sua presença.
Isabel acordou assustada.
- Ai, meu Deus! Não vo dormi até o Pedrão chegar...
Ela se levandou e foi chamar as duas filhas, Safira e Maria.
- Acordem, meninas! Vamo busca o seu pai lá no fandango, que ele deve tá
torrado...
- Vamos, mamãe.
Então, o galanteador misterioso se aproxima de Lilica.
- Muito prazer. Me chamo Luce.
- Meu nome é Lilica.
E os dois dançaram, e Lilica e Luce sentiram que estavam apaixonados um pelo
outro. Mas algo parou Lilica, e ela parou de dançar para falar em segredo com
Carminda.
- Carminda, vamos embora, por favor!
- Por quê, Lilica? Você estava se dando tão bem com aquele mancebo...
- Eu vi fogo nos olhos daquele homem, e além do mais, tive um pressentimento de
que iríamos morrer esta noite...!
- Cruz credo, Ave Maria!! Vamos embora daqui, Lilica.
Assim que Lilica e Carminda saíram do fandango, Isabel chegou com Maria e
Safira.
- Olhem só que bagunça, mãe!
- Esse povo não teme a um castigo de Deus...
Então, Luce sai do escuro e grita para o povo:
- Dancem, bebam e divirtam-se, minha gente! Dancem até morrer!
Ahahahahahahaha.....
De repente, quanto o relógio bateu meia-noite, a casa tremeu e afundou. Todos
que estavam lá gritaram e se apavoraram, mas os únicos que saíram foram Isabel,
Maria e Safira. Só um riso ecoou no ar: o riso do diabo.
De manhã, os soldados do capitão-mor foram visitar a casa junto com o padre,
mas nada encontraram. A casa havia afundado completamente.
De onde aconteciam grandes festas, não restou nem um sinal sequer. O chão que
era firme, se tornou um pântano medonho o triste. Um cenário grotesco do
castigo divino. Assim, a lenda da casa afundada foi passada de geração em
geração, ficando conhecida como "o brejo que canta". E dizem que quem
passa pelo terreno baldio, próximo à companhia Santo Antônio, próximo a Estrada
Velha do Rocio, durante a meia-noite de quinta para sexta-feira Santa, ainda
escuta os moradores fazendo festa, junto com gritos de pavor e do riso maldito
do diabo.....
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