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domingo, 20 de setembro de 2020

Peça que discute autoritarismo está em cartaz na internet

 A professora Dona Margarida é uma personagem autoritária criada há quase 50 anos, em 1971, em plena na ditadura militar. Será que ela está atual? Todo Mundo quer ser Dona Margarida (?)

 



Apareceu a Margarida, clássico da dramaturgia nacional criado pelo carioca Roberto Athayde, completa cinco décadas em 2021. Texto ganhou adaptação online do mineiro Abílio Tavares e a dramaturgia, de 1971, discute opressão e autoritarismo, temas ainda vigentes nas discussões acadêmicas

 

Todo Mundo Quer Ser Dona Margarida (?), está em temporada gratuita aos sábados e domingos, 20h.  https://www.youtube.com/channel/UCrXp4XDPovjfWXlEBD59KYg


Na montagem atual, o ator mineiro encarna a professora autoritária, centralizadora e altamente provocativa - criada em 1971 pelo dramaturgo Roberto Athayde em Apareceu a Margarida - do texto escrito no contexto da ditadura civil-militar brasileira e que logo se tornou um fenômeno de encenações dentro e fora do Brasil.
 
O ator Abílio Tavares nomeou a peça em cartaz como Todo Mundo Quer Ser Dona Margarida (?) por flagrar nela uma espantosa atualidade. "Passados quase 50 anos, é como se a peça estivesse retomando a mesma força de quando foi escrita. A alteração no nome foi para enfatizar que hoje há muitas Margaridas autoritárias protagonizando a cena nacional", reforça. O ator também destaca que o título faz uma referência ao sucesso do espetáculo na história da dramaturgia brasileira, visto que ele recebeu mais de 400 montagens traduzidas para cinco idiomas em mais de trinta países.
 
Os quatro cômodos e oito diferentes ângulos utilizados na montagem – a partir da casa do próprio Abílio Tavares - criam uma dimensão de cenários variados e recursos cênicos que ampliam a narrativa. "Em todos os enquadramentos que são mostrados ao público durante a peça, há a presença da lousa. São ao todo 17 quadros que Dona Margarida escreve quando anuncia algo que é muito importante. Para ela, a lousa é um instrumento de poder", conta o ator, ressaltando a numerosa ação de contrarregragem da peça, já que ele lida com objetos de sua casa o tempo inteiro, como panelas, mesas, cadeiras, utensílios de cozinha e as já citadas lousas.
 
O que torna Dona Margarida mais rica é a sua contradição. "Ela é extremamente autoritária, opressora, mas é muito evidente o quanto ela está repetindo com os alunos um modelo que viveu e que não consegue se libertar. Ela oprime porque foi oprimida e isso a torna infeliz", diz Abílio, lembrando-se de um dos princípios da obra Pedagogia da Autonomia, do educador e filósofo Paulo Freire, em que o autor destaca que "quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor".

 "Seu desejo de controle total é frágil, e por isso ela precisa, o tempo inteiro, reafirmar a passividade dos alunos, a impotência deles. Em vários momentos, ela afirma que a voz na sala de aula é dela e que os alunos não dizem ou sabem de nada porque são passivos", finaliza Abílio.


 Quem é Abilio Tavares

Nascido em Uberlândia/MG, o ator Abílio Tavares foi um dos artistas fundamentais na década de 1980 a favor da valorização do teatro independente em Minas Gerais. Abílio foi produtor do 5º FESTIMINAS (Festival Estadual de Teatro de Minas Gerais), organizado pela FETEMIG (Federação de Teatro de Minas Gerais) em Uberlândia, no ano de 1980. Essa movimentação das artes cênicas resultou na criação da Associação de Teatro de Uberlândia, fundada há 40 anos e que teve Abílio como primeiro presidente. Em seguida, Abílio mudou-se para São Paulo (capital) para estudar Artes Cênicas na USP.
 
"Vivi em Uberlândia uma realidade de teatro amador muito potente. Foram inclusive essas discussões que me fizeram querer me aprofundar e estudar teatro na universidade", conta. Mesmo morando até hoje na capital paulista, o artista promove uma interlocução recorrente com sua terra natal, oferecendo cursos livres de artes cênicas e oficinas. Também foi convidado para ser curador de duas edições do Encontro de Artes Cênicas do Cerrado, projeto criado pelo Grupo Pontapé de Teatro em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia.
 
Em São Paulo, Abílio foi diretor do TUSP (Teatro da USP) entre 1989 e 2006. Nesses 17 anos, sua articulação fomentou o teatro universitário nas cidades de Piracicaba, São Carlos, Bauru, Pirassununga, Ribeirão Preto e São Paulo (capital), municípios em que haviam campus. Sob sua gestão, o TUSP também ofereceu oficinas continuadas de teatro e promoveu, de 1991 a 1997, o Festival Universitário da USP. Esse projeto foi, inclusive, o estímulo para criação de uma companhia profissional de teatro do próprio TUSP.
 
"No início dos anos 1990 eu pude acompanhar a reocupação do prédio da Rua Maria Antônia, do qual a USP foi expulsa em 1968, durante a ditadura militar. Por lá, havia muitos debates, reflexões sobre a cena contemporânea e a história do teatro brasileiro", lembra Abílio. O artista segue trabalhando na USP com projetos de gestão em artes cênicas.
 

A IMPORTÂNCIA DE DONA MARGARIDA NA VIDA DE ABÍLIO TAVARES

 
Os encontros de Abílio Tavares com Dona Margarida - personagem central da peça Apareceu a Margarida - aconteceram em Minas Gerais e em São Paulo, e agora, em função da pandemia, também em formato online. Abílio dirigiu ou interpretou a personagem em montagens e exercícios nos anos de 1980 (em Uberlândia), 1982, 1983, 1995, 2006, 2017 e 2020. A peça de Athayde foi, inclusive, a que marcou sua primeira direção teatral, ainda em Uberlândia, quando Abílio tinha 18 anos. Em 2020, são 40 anos da relação entre Abílio e Dona Margarida.
 

SOBRE O AUTOR ROBERTO ATHAYDE

Dentre as muitas colaborações de Roberto para o teatro, estão a peça Apareceu a Margarida (escrita em 1971 e estreada em 1973), de sua autoria, que, no Brasil, ganhou montagens de Aderbal Freire Filho protagonizada por Marília Pêra e que teve também montagens na França, na Argentina e nos EUA, entre outros países.
 
Sucesso nacional e internacional, o texto esteve em mais de quarenta produções na língua alemã, quase trinta na língua francesa, e já foi encenado em mais de vinte países. Foram 250 montagens em todo o mundo. Segundo o autor da peça, foi a montagem francesa com Annie Girardot interpretando Madame Margarite, que catapultou a peça pelo mundo.
 

SINOPSE

Dona Margarida é a nova professora do quinto ano primário que chega para preparar os alunos para o temido exame de admissão ao ginásio, segundo ela, a "prova mais terrível de quantas já fizeram até hoje". Escrita em 1971, a peça combina elementos intensamente cômicos com elementos dramáticos. Essa releitura em 2020, com a participação de antigos companheiros na equipe de criação e de jovens artistas na pesquisa e colaboração para a direção cênica e a ação pedagógica, é o sétimo reencontro de Abílio Tavares com Apareceu a Margarida. Ensaiando desde janeiro para estreia em julho deste ano, no teatro convencional, o processo foi interrompido em março em função da pandemia e foi totalmente refeito, agora, para essa versão online.
 

FICHA TÉCNICA

Direção e Ação Pedagógica: Nicolas Iso
Consultoria Pedagógica: Paula Zurawski
Pesquisa e Colaboração para Pesquisa Cênica: Ewerton Correia
Consultoria em Direção de Arte: Marco Lima
Visagismo: Carol Badra (Consultoria) e Jefferson Vanzo (Criação)
Preparação física: Mahal Araujo Personal
Consultoria Corporal: Juliana Monteiro
Direção de vídeo abertura: Kleber Goes
Música: Hino da Cruzada Alfabética
Compositor: Roberto Athayde
Voz: Abílio Tavares 
Arranjo e Produção Musical: Rodolfo Schwenger
Edição de vídeo: Felipe Rolli - NoName Estúdio de Animação
Consultoria Jurídica: Grupo Prismma
Comunicação Digital: BMG Comunicação
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques
Assistentes de Assessoria de Imprensa: Daniele Valério e Diogo Locci
Produção: MoviCena Produções 
Assistente de Produção: Luciana Venancio
Assistência de Coordenação Geral: Karina Cardoso
Concepção, Viabilização, Coordenação Geral do Projeto e Atuação: Abílio Tavares
Agradecimento especial: Instituto Vladimir Herzog
 

SERVIÇO

Reestreia de Todo Mundo Quer Ser Dona Margarida (?)
Releitura de Apareceu a Margarida, de Roberto Athayde
De 5 de setembro a 27 de setembro de 2020 | Sábados e domingos, às 20h *
* As sessões serão exibidas ao vivo e não ficarão registradas no canal
Acesso gratuito | Onde: YouTube A Dona Margarida Oficial
Duração: 50 min. | Classificação: 12 anos
 
REDES SOCIAIS DO ESPETÁCULO:
Instagram @adonamargaridaoficial
facebook: @adonamargaridaoficial

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