Como, em seis anos, uma área de Mata Atlântica inutilizada
no litoral do Paraná virou referência em turismo de natureza, práticas de
conservação do Bioma e educação ambiental para escolas e empresas?
Nesse período, quase oito mil pessoas, mais de uma centena
de escolas, cerca de quatro mil alunos, e mais de 3.500 pessoas ligadas a 90
empresas já foram sensibilizadas pelas ações desenvolvidas no Ekôa Park
Dia 03 de março de 2024, o Ekôa
Park, um parque de experiências ecológicas localizado em Morretes, no
litoral do Paraná, completa seis anos de existência e atuação em prol da
conservação da Mata Atlântica. O Ekôa foi criado em 2015, mas o início de suas
operações para o público ocorreu em 2018.
O parque fica em uma área de 238 hectares de floresta,
localizado dentro da maior faixa contínua do Bioma no Brasil, conhecida
como Grande
Reserva Mata Atlântica. Esse território reúne três milhões de hectares de
floresta nativa, localizado entre os Estados do Paraná, São Paulo e Santa
Catarina. A área é um importante patrimônio natural, cultural e histórico e um
valioso e singular destino de turismo de natureza, nacional e
internacional.
Na região onde o Ekôa está localizado, ainda é frequente –
assim como em áreas protegidas por lei, mas sob a tutela privada – invasão de
posseiros, caçadores, palmiteiros e de pessoas que, ilegalmente, promovem
práticas de desmatamento irregular. Foi para afastar o território desse risco,
e transformá-lo em um local catalisador de novas oportunidades e
disseminador de conhecimento em prol da Mata Atlântica, que a empresária
Tatiana Perim, idealizadora do Ekôa Park, criou o espaço, há seis anos.
No passado, a propriedade foi utilizada apenas como destino
de veraneio da família. Em 2008, após o falecimento de um dos proprietários da
área, ela foi colocada à venda e ficou, por anos, inutilizada. Foi então que
Tatiana, filha do casal de proprietários, teve a ideia de custear o conjunto de
ações necessárias para a manutenção da propriedade e a consequente proteção
da floresta. Para ela, a venda da propriedade poderia transformar o local em
uma área de agricultura predatória, ocupação irregular e até em vítima da
especulação imobiliária, práticas que ainda ocorrem na região. Em viagens
internacionais a trabalho ou turismo, Tatiana já havia conhecido exemplos de
locais em outros países do mundo que souberam utilizar com excelência os
ambientes naturais e estimular a conservação e práticas do turismo de natureza.
E decidiu aplicar as inspirações na concepção do Ekôa.
“Sempre admirei a beleza da região. Morretes é muito
especial. Reúne cenários naturais únicos, uma rica história e uma cultura
lindíssima. E esta propriedade é realmente privilegiada. Sua localização
proporciona a visualização de toda a cadeia de montanhas: Conjunto Marumbi,
Serra da Graciosa, Ibitiraquire e o imponente Morro do Sete. Era preciso
conservar essa essência”, recorda a empresária.
Desde então, o Ekôa Park tornou-se um destino de
educação, sensibilização e conscientização para todas as pessoas que o
conhecem. As práticas desenvolvidas no espaço buscam transformar a realidade
social, econômica e ecológica da região, por meio da oferta de conhecimento e
tecnologias de uso responsável dos recursos naturais existentes. “Por meio
da educação, da sensibilização e da conscientização para a
importância do patrimônio natural, elaboramos atividades que divertem, envolvem
e transformam tanto o olhar no nosso visitante, quanto da comunidade local, que
passa a compreender o valor do turismo regenerativo e das práticas do que
chamamos de ‘produção de natureza’”, explica Tatiana.
A empresária também recorda que Ekôa, em tupi-guarani,
significa “morada”. Vem também de “ecoar”. “Queremos propagar informações sobre
a natureza, a sustentabilidade e o meio ambiente”, diz ela. A escolha do nome ainda
derivou da palavra “ecologia”, originária do grego: oikos (casa) e logia
(ciência). “O Ekôa é um ambiente inteiramente diferente. Suas riquezas não
estão somente na beleza das montanhas, na exuberância da floresta ou na
diversidade de espécies da fauna e da flora, mas, principalmente, em seu
posicionamento de ‘Encontre sua Natureza’, que promove a conexão entre as
pessoas e o meio ambiente, e o mundo moderno com o natural, encantando por meio
de experiências únicas que envolvem arte, entretenimento, trilhas imersivas,
atividades de aventura, oficinas e cursos”, diz Tatiana.
Transformação em números e promoção da educação ambiental
Em seis anos de existência, o espaço já recebeu quase
oito mil pessoas, mais de uma centena de escolas, cerca de quatro mil alunos, e
mais de 3.500 pessoas ligadas a 90 empresas com atuação em diferentes
estados do Brasil. Todas foram sensibilizadas pelas ações desenvolvidas no
local.
No caso das ações envolvendo a educação para a conservação,
dois colégios particulares de Curitiba propõe que seus alunos estudem de
maneira transversal (envolvendo disciplinas de Artes, Ciência, Português,
Geografia, História e Matemática) vários aspectos do parque, aliando as
diferentes áreas do conhecimento com informações sobre conservação ambiental.
“Esse aprendizado é imensurável e transcende o ambiente da sala de aula, já que
os alunos levam para casa, e para seus familiares, novos conhecimentos e
hábitos aprendidos na prática”, destaca Tatiana. Os alunos também chegam a
aproveitar três dias inteiros imersos em todas as áreas, oficinas e atividades
que o parque oferece.
Mantendo a preocupação social, o Ekôa recebe
anualmente alunos da rede pública municipal de Morretes de áreas
rurais afastadas, para que essas crianças, que, muitas vezes, estão em situação
de vulnerabilidade, também tenham direito de viver experiências que as ensinem
sobre as características do Bioma em que estão inseridas, sobre os conceitos
relacionados aos seres vivos que nele vivem, e sobre a importância do uso de
tecnologias sustentáveis e de baixo impacto para a natureza.
Em 2022, o parque promoveu um dia de diversas atividades
ecológicas extracurriculares a mais de 125 alunos do ensino fundamental de
diversas regiões rurais de Morretes no Programa “Bom Cidadão”. O espaço recebeu
crianças da Escola Municipal Professora Desauda Bosco da Costa Pinto, que
ganhou uma contribuição pedagógica, abrangendo as mais variadas disciplinas e
áreas do saber. Foram oito horas de muitas atividades, confraternização e
dedicação, com suporte de monitores e especialistas do Ekôa. As crianças
aproveitaram toda a estrutura do espaço, incluindo alimentação, e uma
programação rica, criativa e que promoveu um amplo aprendizado. O projeto foi
uma parceria entre a iniciativa privada e o poder público, atribuído ao Decreto
n.º 34 de 10/02/2021, que regulamenta o programa, apoiando projetos
comprometidos com o bem-estar social e o desenvolvimento cultural de Morretes.
As equipes da Secretaria Municipal de Educação e Esporte da cidade e da escola
participante relataram que as atividades extracurriculares de campo foram um
mecanismo facilitador no processo de ensino-aprendizagem. "O dia de campo
no Ekôa a partir da inciativa ‘Encontre sua Natureza’, foi um marco na retomada
das aulas presenciais depois da pandemia, e na socialização dos alunos”, disse
Adriana Assumpção, secretária de Educação do município.
Todos os moradores de Morretes e Antonina, assim como estudantes,
idosos, professores da rede de ensino pública ou privada, doadores de sangue,
pessoas com deficiência e aniversariantes do mês, pagam metade do valor do
ingresso para aproveitar as atividades oferecidas pelo parque.
Quando a natureza contribui para a solução de problemas
humanos – e empresariais
Além dos trabalhos desenvolvidos com as escolas, o parque
conta com um programa especializado em integração empresarial, por meio de
atividades capazes de fortalecer as relações entre pessoas de um mesmo grupo ou
equipe.
O Ekôa vem sendo cada vez mais procurado por empresas
de vários segmentos para vivências de desenvolvimento profissional. E os
conceitos da chamada “biomimética” enriquecem a agenda pensada pelo espaço para
propor às organizações diferentes dinâmicas e atividades inspiradas nos
ensinamentos da natureza.
O termo “biomimética” vem do grego “bio” (vida) e “mimeis”
(imitação), e faz referência ao uso da lógica da interação entre os seres vivos
e das dinâmicas da natureza aplicadas a diferentes tipos de negócios. A ideia
vem crescendo no mundo, e já chega com força também ao Brasil. O conceito se
popularizou mais nos anos 1990, quando, ao lançar o livro Biomimética: Inovação
Inspirada pela Natureza, em 1997 nos Estados Unidos e em 2003 no Brasil, Janine
Benyus, bióloga americana foi responsável por propagar a ciência que se
desdobra em múltiplas aplicações. Ela foi uma das fundadoras do Biomimicry
Institute, em Montana, EUA.
Tatiana fez um curso sobre o assunto em 2019. Depois,
uma especialização em biomimética e leu diversos livros e artigos sobre o tema.
“Utilizei muito uma ferramenta que ganhou diversos prêmios chamada ‘Ask
Nature’, que reúne modelos e sistemas do mundo natural para nos inspirarmos a
‘biologizar’ e resolver problemas humanos. Meu próximo objetivo é fazer um
Mestrado em biomimética”, projeta Tatiana. “Cada momento que pensamos para
as empresas é único e elaborado para a necessidade de cada uma, considerando
seus negócios, expectativas e áreas de atuação”, diz ela.
A programação pode incluir dinâmicas inspiradas na
biomimética, atividades de sustentabilidade ou de aventura, de acordo com os
objetivos da empresa. “Adaptamos a agenda às preferências das empresas. A
maioria dos nossos eventos corporativos é voltada para o desenvolvimento
de equipes, com uma programação intensa e objetivos claros para trabalhar integração,
colaboração, inovação, comunicação e/ou liderança”, completa.
Marlon Fonsaka, diretor da Renault Supply LATAM, falou sobre
a experiência depois de um dia de vivências no local. “Minha principal
preocupação sempre foi pensar em como trazer ao mundo corporativo esse link com
a natureza e o mundo natural. Quando cheguei ao Ekôa, fiquei impressionado com
a conexão de todas as pessoas da equipe do espaço com os conceitos
apresentados. Meu time ficou encantado em perceber como tudo estava realmente
conectado. Então, com certeza, nossa vivência corporativa atingiu tudo aquilo
que eu esperava. Realmente nos conectou ao ecossistema e com um objetivo de
inovação nos negócios. Também tivemos muitos insights inspirados
pelas práticas e dinâmicas da natureza. Foi um benchmarking fantástico.
Perceber como a natureza funciona há milhões de anos perfeitamente, sem gerar
resíduos, foi incrível. Na natureza, tudo se recicla, tudo se renova. E eu
acredito que podemos fazer bastante dentro da empresa com tudo o que aprendemos
no Ekôa”, disse o executivo.
Além da Renault, empresas como o O Boticário, Volvo,
EBANX, SESC, SEBRAE, entre outras, também já participaram das dinâmicas
desenvolvidas a partir dos conceitos da biomimética, ou realizaram eventos
corporativos no local. Tudo em busca da renovação contínua com o aprendizado a
partir da genialidade da natureza e obtenção da maior eficiência dos processos
corporativos, seja na comunicação, ou na integração das equipes das empresas.
Programa Salvando as Árvores da Extinção
O Ekôa também participa desde 2018 de um projeto que
busca mitigar o problema do desmatamento da Mata Atlântica, chamado “Salvando
Árvores da Extinção” (Un-Endangered Forest, em inglês). Ele é resultado de
uma parceria estabelecida entre Porto
Morretes e Novo
Fogo com o Instituto
Hórus e o Ekôa
Park e tem por objetivo aumentar a presença de árvores raras ou
ameaçadas de extinção na paisagem litorânea, na Floresta Atlântica, com foco em
espécies que foram intensamente exploradas no passado, principalmente, para uso
madeireiro.
As florestas do Ekôa são utilizadas como local para os
especialistas encontrarem frutos e sementes das espécies matrizes, ricas
em material genético. E as sementes são beneficiadas e cultivadas no viveiro do
local, até que as mudas estejam prontas para serem doadas, plantadas e
devolvidas à floresta.
Do Ekôa, são distribuídas para uma Rede de Plantadores –
proprietários de áreas particulares da região – que têm interesse em receber e
cuidar dessas espécies raras para plantio. Eles recebem todas as mudas
gratuitamente e, com isso, colaboram com a reposição das espécies na floresta,
com o enriquecimento da Mata Atlântica e com a propagação de informações
relevantes sobre espécies raras, que estão na lista vermelha da IUCN, a União
Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais. Ao
aceitar receber as mudas, os proprietários recebem informações sobre cada
espécie e orientações sobre como e onde realizar e acompanhar o plantio.
“Trata-se de uma forma de dar mais visibilidade a essas
árvores preciosas, ‘madeiras de lei’ muito exploradas no passado e que são
pouco conhecidas do público em geral. O projeto também gera uma rica bibliografia
sobre essas espécies ameaçadas”, diz Tatiana, que ainda complementa. “A
preservação e a não exploração dessa grande área faz com que possamos manter
incontáveis plantas e animais em seu habitat natural. Dentre os diversos
benefícios da conservação fornecidos, estão o sequestro de carbono e a
devolução de oxigênio à atmosfera, a preservação de rios e nascentes e a
manutenção da biodiversidade de fauna que, por sua vez, segue dispersando
sementes e reciclando a floresta”.
Até agora, já foram marcadas no Ekôa 518 árvores
matrizes, coletadas 29.592 sementes e distribuídas 3.847 mudas, cultivadas
desde 2018 no local. Além disso, mais de duas mil mudas também já
foram registradas pela rede de plantadores no aplicativo disponível para eles,
que garante o controle desses plantios. Fazem parte da rede 91 plantadores,
com expectativa de crescimento anual. E são 50 as espécies raras,
endêmicas ou ameaçadas de extinção focos do programa.
Programa Grandes Mamíferos
Desde 2021, o Ekôa também participa como membro da rede de
monitoramento do Programa “Grandes Mamíferos da Serra do Mar”. O método de
monitoramento mais indicado no levantamento de mamíferos de médio e grande
porte são as chamadas “armadilhas fotográficas” e também a observação de
rastros, pegadas. Eles não são invasivos e têm o potencial de registrar várias
espécies.
Por meio dessa parceria entre o Ekôa e o programa, já foram
registradas diversas espécies no parque, incluindo Tatus, Tamanduás,
Cuícas e alguns mamíferos como Onça-parda, Macuco, Jaguatirica e o Mão-pelada –
um dos carnívoros neotropicais mais pouco conhecidos, de pelagem acinzentada, e
que pode chegar a um metro de comprimento. Ele possui uma máscara de pelos
escuros ao redor dos olhos. No local, também já foi registrado o Veado-mateiro-pequeno,
espécie endêmica que só ocorre na região da Serra do Mar e em alguns trechos de
Santa Catarina, considerada pela IUCN como Vulnerável. Além da fragmentação e
perda de hábitat, a espécie é ameaçada pela caça indiscriminada, mas o local
ainda é um espaço de sobrevivência para essas e tantas outras importantes
espécies da Mata Atlântica.
Roberto Fusco, coordenador do programa, diz que a parceria
entre o programa e o Ekôa é altamente valiosa para ambas as partes. “Com a
atuação em conjunto, a integração de esforços e uma agenda comum de
monitoramento, só temos a ganhar, mas, principalmente, ganha a vida
selvagem”, diz.
Propostas atuais e planos futuros
“Esses seis anos de existência representam ao Ekôa um aprendizado
profundo com a natureza, com as comunidades locais, as intemperes, que também
temos de enfrentar, e com os atores dos setores público e privado. Nesse tempo,
aprimoramos nossos programas ambientais, capacitamos e formamos colaboradores,
desenvolvemos novas atividades, firmamos parcerias importantes e expandimos
nossa rede de fornecedores locais. Conseguimos reconhecimento do público,
recebemos no final de 2023 a Menção Honrosa do Prêmio
Braztoa de Sustentabilidade – uma importante referência no
reconhecimento de boas práticas em Turismo de Natureza no Brasil –, e
continuamos em busca de certificações e premiações”, projeta Tatiana.
Ela também destaca que trabalha para que o espaço se torne
referência em educação ambiental, seja por meio de atividades imersivas, cursos
e experiências ou de uma gastronomia regional, à base de plantas e boas
práticas ecológicas. “Estamos lançando um novo cardápio inspirado na
biodiversidade da Floresta Atlântica, produzindo insumos em sistemas
agroflorestais e fortalecendo a agricultura familiar com parceiros locais.
Buscamos a integração total com o Bioma, pois, por meio dele, nos inspiramos
para desenvolver novos conteúdos sempre baseados na genialidade da natureza,
que é nosso modelo, nossa mentora e a melhor medida. Nosso maior objetivo é nos
tornarmos um centro de excelência em imersões corporativas, integração de
equipes e desenvolvimento profissional, utilizando a biomimética como
metodologia para inspirar e desenvolver uma gestão mais inteligente das
empresas a partir de um pensamento ecológico”, conclui Tatiana.
Claudia Guadagnin, da Assessoria de Imprensa do Ekôa
Park.
Confira algumas imagens: