O Paraná é um estado brasileiro relativamente jovem - são
apenas 169 anos desde a emancipação político-administrativa de São Paulo.
Apesar da “pouca idade”, a identidade cultural do estado começou a se formar
muito antes disso e segue, até hoje, em transformação. É sobre essa identidade
múltipla e mutante que a nova mostra de longa duração do Museu Paranaense
trata. Denominada "Nosso Estado: vento e/em movimento", a exposição
será inaugurada no MUPA no dia 14 de junho, às 19h. Formada a partir de dois
eixos principais — Deslocamentos por dentro e Deslocamentos pela margem — que
se dividem em cinco núcleos cada, esta exposição é resultado de uma grande
pesquisa iniciada pela equipe do Museu em fevereiro de 2020.
“Essa exposição coroa o belo trabalho que vem sendo feito
pela direção do MUPA nos últimos três anos: o movimento necessário de se
aproximar dos povos que estão na origem de nossa cultura e do público. Acredito
que o MUPA é uma das instituições brasileiras que faz isso com maestria”,
afirma a superintendente-geral da Cultura, Luciana Casagrande Pereira.
O primeiro eixo, chamado de Deslocamentos por dentro, propõe
um mergulho na história de algumas das diversas comunidades que formaram o
Estado do Paraná. Desde migrantes relacionados a deslocamentos ocorridos ao
longo do século XX, como ucranianos e alemães, passando por migrações
contemporâneas de venezuelanos e haitianos; exílios indígenas, como o
emblemático caso da etnia Xetá e comunidades quilombolas.
Já o segundo eixo, chamado de Deslocamentos pela margem, é
inteiramente dedicado à cultura caiçara. Nele, os visitantes poderão se
aproximar dos aspectos relacionados às relações ecológicas, à musicalidade, à
religiosidade e festividades das comunidades caiçaras, bem como dos
conhecimentos ligados aos saberes e fazeres artesanais dessa população
tradicional que habita o litoral paranaense.
A proposta é levar ao público os depoimentos de imigrantes,
de seus descendentes e representantes ou membros das comunidades tradicionais.
Todos os depoimentos foram gravados durante seis meses de trabalho de campo em
Curitiba, Ponta Grossa e no litoral paranaense por um grupo multidisciplinar,
formado por cineastas, jornalistas e pesquisadores acadêmicos, em conjunto com
a equipe do Museu. Ao longo das gravações, a equipe posicionou as pessoas
entrevistadas como protagonistas nos relatos de suas próprias histórias de
vida. Estes depoimentos, que estreiam publicamente pela primeira vez na mostra,
passam a compor o acervo do MUPA; resultado do compromisso assumido pela atual
gestão de ampliar e atualizar o acervo do museu.
O conjunto de 22 depoimentos em vídeo, apresentados em telas
que mostram os entrevistados em tamanho real - causando a sensação de estar
frente a frente com eles, conversando - é enriquecido com imagens de paisagens
emblemáticas do Paraná, como das formações rochosas de Vila Velha, mangues, mar
e lagamar do litoral. A mostra contará ainda com aproximadamente 100 objetos
que fazem parte do acervo histórico, antropológico e arqueológico do Museu
Paranaense, um híbrido entre acervo e novos registros que enriquecem a coleção
e aprofundam o debate.
A singularidade do conceito de "Nosso Estado: Vento e/em movimento"
vive na ideia de que a partir de um depoimento íntimo, é possível entender um
contexto maior e muitas vezes comunitário, coletivo - já que a experiência
individual das vidas se dilata, gerando empatia e identificação, promovendo
alteridade e representatividade.
Visitando a mostra, será possível perceber um panorama da
complexidade de experiências nos deslocamentos físicos e simbólicos das pessoas
que ajudaram a formar o Estado, além de conhecer a riqueza e os desafios que se
colocam ao modo de vida caiçara. São indivíduos que narram suas experiências.
Essa metodologia adotada reforça a recente atuação no MUPA de entender a
instituição como um espaço de relações, a fim de aproximar o Museu da
comunidade.
Para conectar os dois eixos da exposição, que tratam de
assuntos complexos e diversos entre si, a curadoria utilizou o vento como
metáfora. Na cultura caiçara, o vento é norteador para pensar toda a relação
deste povo com seu território e modo de vida. O vento também remete ao
movimento e à mudança, dois aspectos centrais quando pensamos em deslocamentos.
Essa metáfora perpassa todos os textos, os depoimentos e se traduz nos vídeos
das paisagens.
Museu como espaço de relações
Segundo a diretora do MUPA, Gabriela Bettega, "houve um esforço pela busca
do aprofundamento das representatividades na produção e no conceito expositivo,
buscando desviar de estereótipos como o de que somente populações europeias
formaram o Paraná, ou armadilhas que tentam essencializar o que é “o caiçara”,
romantizando a relação dessa população com seu território. Isso só foi possível
porque são as pessoas que narram sua experiência e não mais é o “museu” que
fala por elas", afirma. "Imaginamos o museu como um espaço de
relações, uma arena aberta ao debate"
Acessibilidade
Os vídeos da exposição serão disponibilizados também com tradução em LIBRAS. O
material poderá ser acessado através de QR Code na exposição e através do site
do MUPA.
A exposição "Nosso estado: Vento e/em movimento"
foi viabilizada pela Lei de Incentivo à Cultura, com patrocínio do Banco Bari,
Instituto Barigüi, Grupo Barigüi, Compagás, Banco Regional de Desenvolvimento
do Extremo Sul (BRDE), Sanepar e Copel.
Serviço
Exposição “Nosso Estado: Vento e/em movimento”
Mostra de longa duração no Museu Paranaense.
Abertura terça-feira, dia 14 de junho, às 19h com participação do Grupo
Mandicuera (Aorelio Domingues, Poro de Jesus e Zeca da Rabeca)
O MUPA está na Rua Kellers, 289, São Francisco - Curitiba.
Entrada gratuita. www.museuparanaense.pr.gov.br