São oito canções autorais, num repertório que viaja do rock
ao baião, com letras abordam temas como amor, insegurança pública, vingança,
vida extraterrestre e fé no futuro
Capa do novo disco de Paulo Thomaz |
São Paulo, 29 de agosto de 2023 - Era dezembro de 2019
quando o ainda Paulinho Thomaz se reuniu com o produtor e baixista Patrick
Laplan e o baterista Diego Laje e deu início à gravação de “Landeiro”, seu novo
álbum. O processo caminhava bem, até que, de repente, uma pandemia fez o mundo
parar.
Sem poder trabalhar, o artista logo se viu diante de grandes
desafios pessoais, quando ele e toda a família adoeceram de covid-19. Sua mãe
foi internada em estado grave e seu avô materno, que já sofria de outra doença,
piorou e faleceu em julho de 2020, no auge do isolamento social, enquanto
milhares de pessoas eram contaminadas pelo coronavírus e perdiam suas vidas
diariamente.
Foram meses de espera até a retomada dos trabalhos, ainda de
forma virtual, no final daquele ano. Mas os tempos de pausa e quarentena
trouxeram amadurecimento.
O título do álbum mudou. Inicialmente, se chamaria “Disco Voador” – nome de uma das faixas gravadas –, mas foi rebatizado de “Landeiro”, sobrenome do avô falecido, herdado pelo compositor na certidão de nascimento. Dessa forma, o artista não só homenageia seu amado familiar, mas também sinaliza que está diante de uma nova fase, já que é a primeira vez que usa este sobrenome publicamente.
E Paulinho cresceu. Virou Paulo. Paulo Thomaz que traz,
nesse novo trabalho, oito canções autorais, num repertório que viaja do rock ao
baião, onde as letras abordam temas como amor, insegurança pública, vingança,
vida extraterrestre e fé no futuro.
Outra homenageada é a cadelinha Leopoldina, que tinha como
tutores os pais do produtor Patrick Laplan e que também faleceu durante a
construção do álbum. A dachshund estava sempre presente e divertia todo mundo.
Quando a pandemia perdeu força, Paulo retornou ao estúdio para gravar as vozes
e sentiu falta da mascote. Ao questionar sua ausência, recebeu a triste
notícia.
A respeito da sonoridade, “Landeiro” tem som quente e
orgânico e isso é uma novidade nas gravações do poeta, que, juntamente com o
produtor Patrick Laplan, optou por uma atmosfera setentista neste projeto.
Poeta porque Paulo também é autor de “Trevo De Sorte Tem Que
Ter 4 Folhas”, coletânea de poesia lançada em 2018, e de “No Auge Do Juízo –
Poemas inventados em dias de pandemia e estupidez”, lançado em 2022, pela
editora Íbis Libris.
A foto da capa foi feita por Pedro Landeiro, irmão do
artista, em conjunto com a também fotógrafa Alice Venturi. Cercado de caixas de
papelão, Paulo Thomaz aparece de camisa branca e calça jeans no centro da
imagem, sentado num sofá forrado com plástico bolha, como se estivesse em plena
mudança de lar. O relógio antigo do avô Landeiro na parede compõe o cenário e
faz referência à passagem do tempo. Insistindo na observação, ainda se nota,
dentro das caixas, livros de Paulo Leminski e Ferreira Gullar, inspirações do
artista. O designer gráfico Fabiano Feroli assina a arte final.
“Landeiro”, que já está disponível na Internet, conta com
Diego Laje na bateria, Gabriel Ventura nas guitarras e violões, Thiago Medeiros
nos metais e Geovanni Andrade no teclado. Patrick Laplan, além de assinar a
produção, também gravou baixo e efeitos de ambiência. A participação da cantora
mineira Fernanda Santana na faixa “Tá Na Hora De Voltar” é a cereja do bolo.
Faixa a faixa
Vice-Versa
Faixa que abre o álbum, “Vice-Versa” lembra o lado poeta de
Paulo Thomaz e tensiona o ouvido do ouvinte, convidando-o ao mergulho em versos
densos e diretos, trilhados por instrumentos que vão se encontrando e se
sobrepondo, aconchegando o canto, até um coro se respaldar numa massa sonora
que, inesperadamente, tem seu fim. Vice-versa foi inspirada pelo sentimento de
vingança após o término impensado de uma relação.
Eu Não Nasci Ideia
Parceria com André Mafra, amigo e produtor dos dois
primeiros álbuns de Paulo Thomaz, esta é mais uma da safra de canções do
artista que têm letras com temas inusitados. Versos de “Eu Não Nasci Ideia”
trazem mensagens como “mais importante do que a idade é existir”, que é
dedicado a todas as pessoas que, ao invés de se aliarem ao tempo, decidem lutar
contra ele.
Quem Aperta O Gatilho?
Música mais rock do repertório, essa faixa reforça a
influência do trabalho do pernambucano Lenine na obra de Paulo Thomaz. Ao ouvir
disparos da janela da sua casa, o artista se fez essa pergunta e começou a
escrever a canção. Em tempos de discussão sobre desarmamento e aumento da
violência no Rio de Janeiro, sua cidade natal, Paulo novamente usa a arte para
passar uma mensagem.
Disco Voador
Inicialmente, Disco Voador daria nome ao álbum. Foi a primeira
canção confirmada no repertório de “Landeiro”. A letra avisa que um disco
voador vai chegar trazendo transformações. Uma metáfora irrigada por muitas
guitarras, delays e reverbs. Desde muito jovem, o compositor se interessa por
ciência e ficção científica. Cedo ou tarde, este tema que intriga a maioria dos
humanos, apareceria na sua obra.
Amuleto
Paulo começou a inventar essa canção inspirado pela Lua.
Inicialmente, “mãezinha” era uma referência ao astro. Depois passou a ser à sua
própria mãe, Silvia. A letra traz gírias umbandistas, religião de seu falecido
avô, a quem o artista dedica o álbum, e questiona a sua própria fé. Depois de
ser conduzida em grande parte por uma levada de bateria que privilegia o som
dos aros dos tambores e misturar jazz com afro-latinidade, “Amuleto” termina
fazendo referência ao som dos atabaques, característico das festas desta
religião. Um naipe de metais acompanha o desfecho.
Pelos Anos A Mais
Para distensionar, a sequência apresenta uma das canções
mais pops do álbum, composta em parceria com Victor Cupertino. “Pelos Anos A
Mais” sinaliza um perdão que só pôde ser conquistado com a maturidade e pede a
volta da pessoa amada. A linha de baixo marcante e as melodias desenhadas pelo
canto e pelas guitarras convidam o ouvinte a balançar.
Tá Na Hora De Voltar
Talvez seja a faixa que mais se comunica com seus trabalhos
pregressos. Uma balada romântica, que conta com a participação da brilhante
cantora mineira Fernanda Santana.
Um Dilúvio De Difíceis Decisões
Mais uma parceria com Elisa Fernandes, amiga de Paulo Thomaz
e já parceira em outras canções, com destaque para “Receita De Domingo”,
gravada no álbum anterior do artista. “Dilúvio”, como é carinhosamente chamada
por ele, traz uma mensagem positiva sobre o futuro, em canto linear e pacífico,
que se contrapõe ao caos vivido nos últimos anos e ao caos ouvido nas faixas
pregressas do álbum.