Para dar continuidade às postagens deste mês celebrando o dia da erva-mate (24/04), vamos apresentar um pouco mais sobre a história e importância do mate, para entender de que forma essa erva típica da região sul foi, e ainda é, considerada especial para o Estado do Paraná. Caso você tenha perdido, na nossa primeira postagem deste mês falamos um pouco sobre o tropeirismo, sua origem e associação com a erva-mate. Para ler o texto do dia 04/04, clique aqui.
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Alfredo Andersen – Sapeco da erva-mate. |
Para estudiosos da área, a erva-mate é considerada a primeira mercadoria que impulsionou a economia e as relações sociais da província, tanto que teve um grande peso econômico no processo de emancipação política do Paraná, em 1853. O mate foi responsável pela primeira fase da industrialização do Estado, diretamente relacionado à implantação de indústrias para o beneficiamento da erva-mate, que chegou a representar 85% da economia paranaense em seu auge.
Por ser uma árvore nativa da região sul do país, a extração do mate já ocorria no Paraná desde o início do século XVIII, quando o governo português demonstrou interesse nessa atividade econômica. Porém, o crescimento e a valorização só vieram quando o mate passou a ser beneficiado no Estado, em engenhos, e principalmente em Curitiba.
Apesar dos altos e baixos durante o ciclo do mate, sua valorização e crescimento sustentou a economia do Paraná durante quase 80 anos e foi responsável pelo surgimento de uma elite econômica conhecida pelos “barões do mate”, que nada mais eram do que os proprietários dos engenhos de erva-mate, que possuíam enorme influência política e cultural e participavam ativamente das tomadas de decisões do Estado. O poder e financiamento do cultivo ervateiro também foi o responsável pela fundação da Universidade do Paraná, a atual Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1912, que o historiador Ruy Wachowicz chama de “A Universidade do Mate” por conta de sua origem.
A partir do crescimento proporcionado pelo ciclo do mate no Paraná, diversas áreas prosperaram. Os barões do mate construíram grandes casarões em Curitiba, em bairros como Batel e o Alto da Glória. As famílias mais ricas queriam opções de entretenimento e buscavam pelo desenvolvimento da cidade, o que impulsionou a expansão das artes, da cultura, da educação, da arquitetura e a urbanização da região.
Nessa época, uma das famílias ervateiras que se destacou foi a família Leão, da Matte Leão. Agostinho Ermelino de Leão Júnior, fundador da Matte Leão, era filho de Agostinho Ermelino de Leão, rico desembargador paranaense, que administrou a província do Paraná por quatro vezes e foi um dos idealizadores do Museu Paranaense, junto com o médico José Cândido da Silva Murici. Em 1902, no bairro Alto da Glória, Ermelino de Leão construiu o Palacete dos Leões para morar com sua família.
Em 1901, Agostinho Ermelino de Leão Júnior abriu uma firma ervateira, a Leão Júnior S.A., inicialmente montando seu escritório na rua Riachuelo, mas seu engenho, a Fábrica Santo Agostinho, ficava na cidade de Ponta Grossa. Pouco tempo depois, em 1907, o empresário veio a falecer e durante um período a empresa foi comandada por sua esposa, Maria Clara Abreu de Leão, acontecimento que foi extremamente raro e progressista para o período.
Depois de dois incêndios em Ponta Grossa, a Fábrica Leão Júnior foi transferida para o bairro do Portão, em Curitiba. Porém, depois de um outro incêndio foi transferida novamente, agora para o bairro Rebouças. Ali foi construído, em 1930, um grande complexo fabril em frente à “Fábricas Fontana S.A.” por Fido Fontana, primo de Leão Júnior, que administrava o engenho vizinho.
A fábrica erguida no bairro Rebouças era gigantesca, considerada a maior e mais moderna do Brasil no período. A erva-mate chegava sapecada e moída dos ervais e moinhos do interior do Estado, onde a família tinha largas extensões de terra. Depois de extraído, o mate era ensacado e transportado de balsa pelo rio Iguaçu até Porto Amazonas, cidade nas imediações de Palmeira, a oeste de Curitiba. A partir disso o produto era levado de trem, em trilhos próprios da empresa, até a fábrica, onde posteriormente era beneficiada e colocada em barris para exportação ou mesmo em latas para venda. Na década de 1920 a Leão Júnior S.A. liderou a produção mundial de erva-mate, chegando a cinco mil toneladas por ano.
Para chegar a esses números, a empresa decidiu investir em um negócio inovador. Uruguai, a Argentina e o Chile eram os maiores compradores da erva de chimarrão Leão. Porém, a Argentina, o maior país consumidor, decidiu proibir a importação do mate já embalado para poder aumentar os ganhos das indústrias nacionais. Então, seguindo o exemplo da “Fábricas Fontana”, Leão Júnior abriu um engenho próprio argentino, passando a exportar a erva-mate para a própria empresa, mas a granel e não pronta para o consumo.
Apesar disso, a importação da erva-mate por países vizinhos praticamente esgotou e nunca mais conseguiu se reerguer da mesma forma. Atualmente, o mate ainda é uma mercadoria importante para a economia dos estados do sul, principalmente do Paraná, que em 2021 produziu 87% da produção nacional da erva. Porém, sua valorização nunca mais atingiu o mesmo patamar do passado. O período considerado de ouro da erva-mate se estendeu até 1929, quando houve a queda da bolsa de valores de Nova York, que gerou uma crise econômica de proporções mundiais. Por conta disso, a Leão Júnior teve que apostar na venda para o mercado interno e na produção de chás prontos, que fez com que a empresa crescesse e ganhasse popularidade nacionalmente.
A história da família Leão à frente da Matte Leão Júnior termina depois de 106 anos, quando a empresa foi vendida para a Coca-Cola, em 2007. Por decisão da maioria da família Leão, o histórico complexo fabril do Rebouças foi vendido para o líder da Igreja Universal do Reino de Deus, que optou por demolir o complexo histórico, acontecimento que fez com que se perdesse junto um pedaço da história do Paraná.
Os principais ervateiros da região, além de Agostinho Ermelino de Leão Júnior, foram:
Barão do Serro Azul;
David Carneiro;
Zacarias de Paula Xavier;
Manoel e Ascânio Miró;
Bernardo da Veiga;
Francisco Fasce Fontana.
Atualmente o Palacete dos Leões, em parceria com o Museu Paranaense, está com a proposta chamada “Narrativas e Poéticas do Mate”, parte do projeto do “Circuito Ampliado” que conta com podcasts debatendo a história e a importância da erva-mate e da família Leão. Para saber mais informações, clique aqui.
Este texto foi elaborado e produzido pela residente técnica Mariana Mayumi Abe Oliveira - Historiadora.
Erva-mate no Paraná e a Família Leão | Secretaria da Comunicação Social e da Cultura (comunicacao.pr.gov.br)