Era o início da Alta Idade Média, ou Idade das Trevas,
período que foi marcado pelo abandono das cidades, estagnação da economia e
miséria da população. Numa tentativa de restaurar o Império Romano do Ocidente,
o imperador bizantino Justiniano, colocou o continente todo em guerra.
Foi nessa época que os europeus tiveram de enfrentar a
primeira pandemia da História. Foi a chamada Praga de Justiniano, a
primeira epidemia de peste bubônica, que voltaria a assolar a Europa
séculos depois, entre 1346 e 1352.
A praga, transmitida por pulgas de ratos infectados, vindos
dos navios, tinha surgido no Egito. Passou pelo Oriente Médio e chegou à
capital do Império Bizantino, Constantinopla, em 540, matando 5 mil moradores
por dia, e eliminando metade da população (estimada entre 500 mil e 1 milhão de
pessoas) da cidade. A doença se espalhou também pela Síria, Europa e atual
Turquia.
Meio século depois, haviam morrido em decorrência da doença
entre 25 e 100 milhões de pessoas. "É difícil precisar dados estatísticos,
mas é possível afirmar que 40% da população de toda a área mediterrânea foi
dizimada por volta do ano 600", afirma Celso Taveira, doutor em história
bizantina e professor da Universidade Federal de Ouro Preto.
A peste bubônica, que mais tarde ficou conhecida como peste
negra, ataca os nódulos linfáticos, localizados em axilas, virilhas e pescoço,
que incham e formam enormes bolhas de pus. As extremidades do corpo são
atacadas por necrose, o que dava aos infectados uma aparência aterradora, algo
como mortos-vivos.
Devido à sua mobilidade, as tropas justinianas podem ter
ajudado a propagar a doença, mas foram também extremamente afetadas por ela. O
exército foi assolado pela praga e até o próprio imperador contraiu a doença,
mas sobreviveu. O impacto na população europeia e, consequentemente, nas
guerras travadas por Justiniano se deu de várias formas. Constantinopla chegou
a ser fechada e a entrada de navios foi proibida, fazendo com que as pessoas passassem
a morrer de fome.
Em questões militares, com a falta de pessoal para as
batalhas, a situação foi de estagnação e derrotas. A praga afetou também os
persas, que contraíram a doença durante a guerra contra os bizantinos, em 543.
Com o enfraquecimento do exército, Justiniano viu-se incapaz de dar
continuidade aos combates e foi forçado a firmar um acordo de paz com o rei
persa, Cosroes, em 545.
Alguns historiadores acreditam que os danos causados aos
persas e bizantinos os tornaram vulneráveis às conquistas muçulmanas no século
seguinte. Estima-se que a pandemia tenha durado mais de 200 anos. "Não se
pode falar de uma epidemia que durou de um período a outro, mas que ela mudava
de lugar", afirma Silvia Waisse, professora de história da ciência da
PUC-SP.
Na pandemia do século 6, nem a imperatriz Teodora escapou.
Alguns a culparam, dizendo que a praga era uma punição divina por sua
promiscuidade. Não passava pela cabeça dos médicos que pulgas, ratos e
organismos invisíveis pudessem causar o mal. "A noção de que havia alguma
coisa que se transmitia só se estabeleceu no final do século 15", diz
Silvia.
Em 285, tentando organizar o caos administrativo do
decadente Estado romano, o imperador Diocleciano dividiu o Império em duas
partes, Ocidente e Oriente. Roma — e, com isso, o Império Romano do Ocidente —
caiu nas mãos dos bárbaros em 476, mas a parte oriental sobreviveu. A capital,
na cidade de Constantinopla, foi chamada de Bizâncio até 330 — daí o nome
Império Bizantino, que, aliás, não era usado pelos bizantinos. Para eles era
Império Romano e ponto, mesmo depois de mudarem a língua oficial para o grego,
em 620.
A peste foi um imenso revés na campanha de Justiniano para
restaurar o Império Romano às suas antigas fronteiras. Iniciada em 527, e
contando com generais legendários, como Belisário e Narses, Justiniano
retomaria dos bárbaros toda a Itália, norte da África e parte da península
Ibérica. No entanto, pelo impacto brutal da doença, e problemas políticos e
econômicos, a reunificação de Roma seria efêmera.
A Itália seria perdida para os lombardos em 568, meros 3
anos após a morte de Justiniano, e o Império Romano do Oriente sofreria grandes
derrotas para os povos islâmicos a partir do século 8, até a queda de
Constantinopla para os turcos otomanos, em 1453. Os gregos viveram sob domínio
otomano até 1822, quando declararam independência e iniciaram uma guerra contra
os turcos com o apoio de países europeus.
(Fonte – Portal Aventuras na Histórias)
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