O desenhista, roteirista e
designer gráfico Hermes Ursini explora os limites entre ficção e
realidade em Bando, livro que marca o retorno do ilustrador ao mundo das
histórias em quadrinhos. Nesta HQ, ele utiliza diferentes traços, técnicas e
gêneros literários para refletir sobre as implicações do fazer artístico em uma
sociedade capitalista, o papel destes profissionais na contemporaneidade e a
importância de pensar sobre arte em um mundo cada vez mais automatizado.
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Foto: Hermes Ursini (Divulgação) |
Para isso, ele conta a trajetória do roteirista Onetti, que, ao retornar para o Brasil, descobre uma gaveta repleta de obras de autores anônimos. Quando percebe a importância destes trabalhos, envolve-se em uma fabulação pessoal em que situações e figuras históricas da HQ europeia, como Dionnet e Gir, o inspiram a procurar o Oriente em São Paulo, mais especificamente o bairro da Liberdade. Na região, encontra-se com o editor Shiro Tahashi. Juntos, os dois descobrem que precisam criar um mundo de ficção para desenvolver um único projeto editorial.
Assim, os leitores são
apresentados a enredos e biografias dos artistas: Felipe Layer, Darta, Bob Bear
e Sherman. Todos eles são personas distintas dentro de Onetti, um personagem
fictício inspirado no próprio Hermes Ursini. Com esta liberdade para criar
narrativas e usar recursos variados, o autor envereda não apenas pelas
complexidades do processo artístico, mas por temas que se conectam à realidade
de todos quando desenha, por exemplo, personagens de diferentes classes sociais
em relações conflituosas com o trabalho.
Só muito tempo depois chega a
hora dos trabalhadores intelectuais. Esses desabam lentamente. Uma barriga
aqui, um diabetes ali, uma gastrite, uma úlcera, e assim vão saindo de cena
devagar. E o que farão com o enorme hiato de tempo entre seu fim tardio e o
precoce acaso dos burros de carga? Vão escrever e desenhar, atormentados por
terem sido premiados pelos deuses com doses extras disso que chamamos de
existência. Estarão solitários, ocupados em dedilhar teclados e rememorar
trechos de suas horas. (Bando, pg. 116 a 118)
Entre as páginas, o escritor
narra histórias diversas: há o homem que enfrenta o luto de perder um amigo
próximo; o jovem que sonha em ser artista na tentativa de criar um outro mundo;
o trabalhador intelectual submisso ao sistema capitalista que descobre ser
parte do proletariado; o pintor que se revolta contra o mercado de galerias,
dentre outras. A partir deste entrelaçado de vozes, personagens e
estilos, Hermes Ursini mostra como, às vezes, a arte é o único meio
que as pessoas têm para sobreviver. Bando foi realizado com apoio do
ProAC, do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura,
Economia e Indústria Criativas.
FICHA TÉCNICA
Título: Bando
Autor: Hermes Ursini
Editora: Troia
ISBN: 9786588436325
Páginas: 128 páginas
Preço: R$ 74 (físico) | R$ 22,40 (e-book)
Onde comprar: Amazon
Sobre o autor: Hermes Ursini (foto) é desenhista, roteirista, pintor, diretor de arte e designer gráfico com
décadas de experiência no mercado da propaganda, em São Paulo. Ele começou a
desenhar quando era criança, no asfalto da cidade de Jaú. Aos 14 anos, depois
de se mudar para Sorocaba, passou a trabalhar em jornal e rádio. Já na capital
paulista, enveredou pela ilustração para revistas e jornais, firmando-se como
um artista voltado para a comunicação. Bando marca seu retorno ao
universo das HQs desde os anos 1980.
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